monólogo eu e Larissa



e eu não consigo 
consigo
não consigo 
consigo!
mudar.

 - mas não há mudança, oras. de que tantas mudanças falas?

-  não sei, eu sinto que estou mudando. olha pra mim, tô mudando?

- não mudou nada.

(senta no chão)

- alguma coisa está mudando, mas não sei o que é.

- se te pertencesse, você saberia.

- se não me pertence, pertence a quem?

- ao tempo.

- o tempo é o aditivo da mudança.

- mas o tempo sobrevive sem a mudança. o contrário é impossível.

- ultrajante.

- impossível.

- é verdade. Pois prossigamos então.

(eu me levanto) 

-  alguma coisa está mudando, mas não sei o que é.

-  eu já sei o que é. a sua percepção das coisas.

- como?

- Esteve vendo coisas aonde não tinham. 

- Por quanto tempo?

- Até agora.

- Desde que nasci?

- Sim.

- Como você sabe?

- Porque eu sou você.

- Não me convenceu.

- Não quero te convencer. Quero mostrar que você sempre pensa que está mudando, numa tentativa de justificar suas ações tão imediatas. De tentar, a todo custo, se convencer de que você é a dona da história e que as pessoas ao seu redor são somente peças de um jogo. ou atores dentro de um palco. Tem certeza que está no controle de tudo?

(eu chego perto)

- (...) Não ouse falar assim comigo. Eu não consigo me encaixar!  Então a vida me propõe mudanças. E eu acredito  nelas. E toda vez que há um embaraço, um desencontro do destino, é tempo de mudança. Mas o mundo não me acompanha. O mundo tem seu organismo próprio e não consigo me integrar dentro. Não nasci com a sorte de continuar intacta em meio a tantas mudanças. 

-  O que está fazendo para mudar?

- Eu não sei..

- Vamos dormir?

- Vamos. 
(pausa, olha para trás)

- alguma coisa está mudando, mas não sei o que é.

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