eu, macabéia, um sentido prévio.

E em meus devaneios literários, precisei destacar este trecho tão estrito de uma obra fantasticamente realista. Uma moça nada atrativa, nada exuberante em seus encantos,uma personagem tão paralela à minha vida, mas tão interligada, nas entrelinhas.  Eu queria mergulhar na mente da moça Macabéa. Queria sentir e estar sob a mesma pele que ela, ao menos uma vez. 


Lispector narrava:


"Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou as manchas do rosto. Em Alagoas chamavam-se 'panos', diziam que vinham do fígado. Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio."



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